ESTRANHOS NUMA NOITE ANESTESIADA - 2º ATO

De repente tudo está mudado. 

eu e meu brother

Os amigos já não são os mesmos. Telius se projeta de vez em quando no palco de ilusões com sua música desencarnada, visceral, arrancando pedaços de seu espírito enquanto canta. Mahli foi-se para outras terras se esconder de sua insanidade. Ferdinando toca o velho violão sem a corda MÍ na Praça dos Desiludidos. Thom ainda está em seu Universo Particular (termo cunhado pela Marisa Monte em seu último disco) fritando a mente em coisas mais banais. Vicius virou um monge. Não como um monge que medita nas curvas do mundo, mas um monge que medita. Thino vende produtos naturais e tenta amar uma desconhecida namorada. Khet sumiu. Nunca mais o vi. Hud continua atrás de sua ninfeta oriental e computadores. E o poeta Macharetti prometeu não escrever uma linha sequer até que os 4 filhos cresçam e o permitam.

Eu perdi todos eles.

Ainda não estou só. Agora há outros. Eles não tem aquele brilho ensadecido nas púpilas quando elas dilatam ao oitavo copo de Bohemia, mas eles tem olhos.

As vezes acho que a ilusão se dissipou e todos voltaram ao mundo normal dos parafusos e das pressões, só que ninguém tá realmente feliz com isso. Não que a realidade seja uma mentira, e sim que a realidade é uma mentira bastante ilusória. Enquanto os elétrons colidem em algum acelerador de partículas, véus são lançados sobre os olhos dos homens trazendo aquela boa e enganosa sensação de que está tudo indo perfeitamente como o planejado. Mas não está. Não somente não está indo, como está indo na direção oposta ao plano. Há...esses demônios e seus simpósios de guerra. Alguém lá em cima, na cabeça de ouro da Estátua do Velho Nabuco, está dando as coordenadas.



Por dentro da milenar, esplêndida, cultuada, desengonçada e estranhamente feia...


ESTÁTUA DO VELHO NABUCO


DENTRO DO DEDO MINDINHO DE BARRO DA ESTÁTUA DO NABUCO DOIS OPERÁRIOS CONVERSAM DURANTE A PAUSA DO ALMOÇO


Operário Um - Então, para onde estamos indo dessa vez?

Operário Dois - Eu sei lá! Pergunta para o caras no setor da RÓTULA. Eles que stão dando as coordenadas agora. Hum, você vai comer esse pedãço de batata aí?

Operário Um - Não, pode pegar. É que estamos andando há tanto tempo e não chegamos a lugar algum. Eu não queria que isso espalhasse... é que...

Operário Dois (tentando falar e engolir o pedaço de batata inteiro junto com a asa de frango) - O que? Fala aí.

Operário Um - Psiuuu! Não quero que isso se espalhe sim, ainda mais com esses supervisores do setor das CANELAS por aqui. Chega mais perto e mastiga logo isso!

Operário Dois - Desembucha!

Operário Um - Já tem um tempo que to percebendo isso. Parece que não estamos saindo do lugar.

Operário Dois - O que?! E o que eu, você e o resto da cambada tamo fazendo aqui? Uma excursão de férias? Eu to ralando pra fazer essa merda de MINDINHO funcionar direito e você vem me dizer que estamos parados?!

Operário Um - Não parados. Mas diferente...

Operário Dois (fazendo cara de mistério) - Diferente....?

Operário Um - Diferente.

Operário Dois - Humm... Só isso? Diferente? (Ameaçou jogar o osso da asa de frango no Operário Um)

Operário Um - Calma, fala baixo! Chega mais perto que vou falar o que eu acho.

(Operário Dois se agacha impaciente com o ouvido atento)

Operário Dois - Fala logo! Tá na hora de voltar para o rala.

Operário Um - Eu acho que..Não, tenho quase a certeza absoluta. Melhor, tenho só a certeza mesmo, não a absoluta, mas a ...

Operário Dois (batendo com o osso da asa de frango na cabeça do amigo) - Fala logo!


Operário Um - Estamos andando em círculos! Pronto, falei!



sam

primavera/2008

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