ANO NOVO?

Agora acabou. De verdade. Não há mais tempo. O círculo...


Eu vi os dias passarem pela janela do ônibus. Indo e vindo de volta, de volta, a mesma coisa, um só tráfego, a mesma via cruzes. Não sinto essa mudança! Não percebo o início. O tempo é relativo. Estou no meio. A passagem. Preso na esfera da vida. Nascer e morrer. O sofrimento é um processo? Vem incluso. E cadê o manual dessa porra toda?! Não. Sem manual. Assim é mais emocionante. Você nunca vai prever o que eu farei em seguida. Mesmo que tente, que siga os padrões, a previsibilidade da rotina. Estamos numa cadência aleatória até o fim do mundo. É isso!

Feliz Natal aos ocidentais.




Aquele que Anda

O homem que anda na imensidão,
Procurando a equação perfeita
Que não desafie a própria razão.
Pisa no solo firme,
Terreno conhecido, palpável,
Explicável, finito;
Aquele que cabe na mente.
O homem que,
Ainda assim,
Pensa no infinito;
Na alma pura, na beleza real,
Poética, perfeita.
Homem que trilha a melodia
Viaja nos sons
Nos tons,
Respira a brisa
Da Sereia Diva.
Caminha, homem.
Não pare, jamais
Ande na imensidão,
Conquiste o horizonte perdido,
Menino, garoto, homem,
Peregrino.


(poema de meu amigo Denis Cruz da Oficina Literária - E-TL para a brincadeira do amigo indiscreto.)


Caminhante
por Maria de Fátima


Articulem vossos dizeres em sons suaves, baixo.
Sons de como se rezassem, ou ninassem criança, ou velassem seu morto ou quem o sabe, falassem de amor em noite de lua grande vinda do horizonte, vermelha que nem sol.
Que vossos passos sejam passinho miúdo, um atrás de cada um, os pés quase juntinhos, o dedo grande amaciando um calcanhar.

Se vos for desejado, levem a mão arrimada a um velho bordão brilhante de servir.
E não dispensem uma roupa muito leve, bem solto o corpo nela, e um chapéu de aba muito larga, preferível que seja este de palha.
Em volta do pescoço, à laia de adorno, uma enfiada de pequenas conchas, muitas conchas de variados tons.
Nos pés um calçado leve, resistente.

Andem assim nas ruas, nos largos, nos tapetes das salas, nos parques e jardins, nas margens de lagos, rios e barragens, nos areais de praias. Andem assim por tudo aonde andarem.
Não deixem de andar nem deixem de falar tal como vo-lo digo.
Sois agora milhares. Sereis milhões e mais milhões.

Nunca mais a correria, o grito, o aperto no peito, a veia no pescoço pulsando mais forte.
Nunca mais o escape de tanto carro, o ruído do carril, o céu cortado por pássaros de vida e de morte.
Nunca mais os silêncios gritados de milhares de gentes cobertas de cores, morrendo vida ao amanhecer e repetindo-se tal ao fim da tarde.
Nunca mais a criação que apenas satisfaz a vaidade.
Nunca mais o tempo que corre apressado.
Nunca mais um choro que não seja dado.
Nunca mais um riso que não seja verdade.

E mais, vos digo eu, muito mais, merece que andemos, como vos descrevi, por toda a Eternidade.

porque não sei dizer de máquinas de fogo e desmórias
porque não sei de buracos negros e nem de estrelas mortas
anãs, supergigantes
e nem sei de foguetes e nem prever as trajectórias entre firmamentos e nem de mais distâncias do que seja o quilómetro
porque não sei dizer de máquinas do tempo nem de robots ou gentes como seres e sendo uma plêiade de correntes, parafusos e carretos
e nem sei de material genético manipulado em funções dantescas
e nem sei eu dizer de chipes programando gente
e porque me apaixona o que há-de vir e sinto proclamado nos escritos dele: arauto, pois nosso pensamento está adiante deste invólucro belo mas limitante que nós somos.
por isso tudo que nem sei se digo quando aqui escrevo,
eu oferto ao meu amigo Samuel
(bem dito dele como Peregrino)
esse meu singelo texto, escrito numa tarde de um Julho em que, talvez eu saboreasse a multiplicidade do que somos e estivesse, quem sabe, Lhe rezando…
e junto, prosaico, mas sincero, o meu desejo de um bom ano!

*Um singelo texto de minha amiga portuguesa, Maria de Fátima.




2008

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