A DAMA DOS CAMPOS DE DENTES-DE-LEÃO

Monet


Ela estava sentada, colhendo dentes-de-leão, debaixo do grande ébano florido - escarlate.
Seus cabelos como fios de ouro reluziam sob o ardente sol primaveril que traspassava seu lúcido esplendor pelas frestas dos pávidos galhos da serena árvore.
Descansava à sombra da quietude e da mansidão.
Seu rosto como uma rósea flor num halo de candura.
Expressava uma alegria etérea que afastava para longe minha melancolia.
Seu séqüito majestoso coloria o verdejante gramado com uma ânfora de cores. E seu agridoce olor destilava um bálsamo de cânfora que inebriava meus sentidos.
Suas alvas mãos de deidade se voltaram para um livro prateado escrito com letras douradas.
E o suave e harmonioso som de sua voz parecia entoar palavras encantadas..


Então, ela sorriu para mim e suspirou docemente.
Como uma labareda incalma, minh´alma se pôs à indagá-la o que dizia o livro sobre o prelúdio porvir triste de minha vida.


O coração trêmulo ansiava a esperada resposta...
Com a alma flora sublime, que é graça e sutileza, a mística princesa segurou minhas mãos e com seu puro olhar de anis, que evocava visões de meu passado distante, capturou os meus olhos e dilacerou o meu peito amargo; então me disse em uma estranha língua:
"_Eu te amo. Você pode amar também."
Uma lúcida e lívida razão apoderou-se de mim. Não mais sentia o desânimo voraz que me assolava noite e dia.


Ela fechou seu livro mágico; pôs-se em pé - suas vestes como uma apoteose de asas girava em torno de mim - então, se inclinou e sussurrou em meu ouvido:


"_Meu nome é Esperança."


Adormeci à sombra do grande ébano - madeira negra, aos pés de Esperança.
Acordei sob o céu estrelado, sentindo no rosto uma leve brisa de saudade, trazendo com ela, pétalas carmesins e dentes-de-leão.
Hoje não mais temo o sol.
Talvez eu esteja cansado de vagar por entre cavernas e abismos. Partirei para além dos altos montes do solitário ermo, a fim de encontrar o lugar para onde ela se foi:

minha Esperança.




sam
2003

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