POR UMA LUZ DE MUDANÇA


As vezes eu acordo grilado, com aquela sensação se sufocamento, a respiração pesada, os olhos ardendo, parece que algo dentro de mim quer gritar, socar alguém, sair quebrando tudo. Eu me emputeço até de vestir a roupa de ir ao trabalho, ou a roupa de ir à festa, ou a roupa de ir à igreja ou a ...ah, esquece. Dias assim servem para nos provar, para dar pressão mesmo, refinando o que temos de bom e trazendo à superfície o que é mal. Sabe esse sentimento de querer prejudicar alguém por não termos o que achamos que merecemos. Mas quando tudo caminha para o pior, me recordo que sou um ser humano cheio de limitações e falhas e exageros, com milhares de pensamentos que tentam se organizar para que haja algum sentido na mente, para que exista ao menos compreensão do que sou e do que o outro o é para mim. 


Assim, me tranquilizo por descobrir que somos todos feitos da mesma matéria prima, pedaços de carbono inteligente, que observa e tem consciência de si e do mundo que o cerca, mas temos tanto medo do que o outro pode estar pensando ao nosso respeito que nos desvalorizamos a ponto de tratar todos como nossos superiores, afim de que elogiemo-los constantemente para que sempre tenham recomendações boas a  nosso respeito, e é essa plástica no relacionamento que me deixa grilado! Nossas máscaras sociais, cheias de normas e etiquetas de bons usos e costumes. Para cada pessoa que conhecemos nos transformamos num modelo mais aprazível possível para que ela nos trate bem e reconheça nosso talento e potencial e que mereçamos as atenções devidas. Cada um está construindo uma própria imagem aparente do self. Como um holograma multifacetado que muda de forma, brilho e cor de acordo com a luz refletida, quando não há luz tudo se escurece.


Baudrillard, filósofo francês, falecido há pouco tempo, anunciou a Era dos Signos. O que é um Signo senão uma parte esmerada, forjada, projetada com dotes não naturais de si mesmo? 
Ele antecipou o que vimos nas redes de relacionamento virtual, uma nova construção para um EU DIGITAL, uma personalidade midiática, programada e supervalorizada com atributos grandiosos, propagado pelas convergências de marketing. A beleza plástica de um Photoshop é tão verdadeira como os gostos e preferências pessoais nas salas de bate papo virtual ou em qualquer conversação online.Estamos nos remodelando continuamente até chegar um ponto em que não saberemos mais quem ou o quê somos. Você pode ser quem você quiser, essa é a premissa prerrogativa da mídia globalizada. Se ainda tiver dúvida, eles terão milhares de modelos para você, novos avatares surgem a todo instante e você não precisará se preocupar com isso. 

Quando eu medito nessas coisas me irrito e penso em algumas soluções que poderíamos adotar para que nossa existência não seja modelada num padrão único da massa que já caminha para a alienação total, mas não há muito o que fazer do ponto de vista geral, do povo, precisaríamos de novos pensadores no poder que quebrariam esses velhos paradigmas e sofismas. Mas como todo homem tem um preço, logo a corrupção bateria à porta e levaria os vaidosos. O que posso fazer? No contato um a um, no relacionamento sincero, individual, movendo as pequenas pedras, nossos amigos, nossa família...Pode ser por aí pra começar a mudar blocos de pensamentos, uma mudança lenta, gradativa, mas objetiva, constante. Um crescimento natural das idéias. E que idéia é essa de transformar o mundo?



Precisamos rever nossa forma de subsistência. Acabar com o desperdício. Voltar para o que é natural, que vem de graça da terra. Entender que estamos dentro do mesmo ciclo da natureza, estamos interligados de maneira intrínseca ao próprio Universo. Nos movemos junto com o Planeta, somos feitos da mesma matéria. O laço atômico que prende nossas moléculas não difere dos elementos de uma estrela. A visão humanista de que o homem é a medida de todas as coisas não faz mais sentido, já que desestruturamos a matéria e o que vimos? Apenas vazio e energia como o há em todas as coisas, toda a forma de vida, em toda a natureza. Pra que esse comportamento egoísta de que somos o deus deste mundo? De que tudo foi criado para nosso deleite e prazer? Isso não passa de ilusão. Desde a década de 20, cientistas e pesquisadores veem contribuindo para o avanço da física moderna, como Niels Bohr, físico dinamarquês cujos trabalhos contribuíram decisivamente para a compreensão da estrutura atômica e da física quântica. No entanto, agimos irresponsavelmente, degradando o ambiente como se não fizéssemos parte dele.


É preciso repensar toda nossa forma de vida, os hábitos alimentares, a compreensão da totalidade do próximo como indivíduo ligado à sociedade por uma teia de relacionamentos. Essa base deve ser mudada com o passar do tempo, pois vivemos num regime dominador, construindo relacionamentos com base numa subserviência social: onde os mais fortes se aproveitam dos mais fracos, social e economicamente. A idéia de poder dominou a sociedade moderna. Sobreviverá quem tiver o status, quem dominar os blocos de pensamentos, os formadores de opinião. Essa é a base em que o capitalismo/pirâmide está fundado. Para que apenas UM governe!




É preciso repensar isso. A próxima geração não vai engolir essa ladainha sem que antes reflitam naquilo que será melhor para a comunidade e não apenas alguns grupos dominantes. A moeda que valerá será a tolerância e a verdadeira justiça social, respeitando e compreendendo o homem como um todo, não apenas um mantenedor de uma engrenagem que ele nem sabe ao menos como funciona.

Eu medito nessas coisas quando penso em desistir e chutar o balde desse sistema não muito justo, onde os homens vão sendo transformados e subprodutos estereotipados  moldados dentro de uma fórmula defasada de compreensão que acaba por fim nos levando a acreditar que valemos menos que um parafuso. 




Decidi levar a vida adiante, não foi um grande sábio quem disse que tudo é uma ilusão, vaidade?
Então, vou vivenciar essa experiência de ser humano até o limite, sem que eu perca minha identidade no meio de tanta propaganda e confusão. Entendendo que estamos aqui para aprender e nos divertir ensinando, pois, que benefício poderá o homem tirar dos bens que acumulou durante toda sua vida quando a Morte o convidar a se retirar no ato final, ao descer as cortinas?

Somos quem podemos ser
Somos quem queremos ser
(Engenheiros do Havaí)


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Samuel Peregrino
01/03/10

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